Dois policiais militares – um soldado e um sargento – estão sendo investigados pela Brigada Militar (BM) e pela Polícia Civil por suposta omissão na morte do soldado Bento Júnior Teixeira Borges, 36 anos, colega deles, ocorrida no último domingo em São Gabriel. Ao todo, são 16 investigados pela Polícia Civil – dois homens presos, sete adolescentes internados (entre eles, uma menina), quatro identificados e um ainda não identificado, além dos dois policiais. Os nomes não foram divulgados pela polícia.
A investigação recaiu sobre os PMs depois da divulgação de imagens feitas com celular e que mostram que ambos estavam no posto Batovi, na BR-290, no momento em que Bento foi morto a golpes de facão. As cenas mostram o policial sendo agredido. O outro soldado, que também foi ferido com corte no pescoço, aproxima-se de Bento, mas sai do local de carro, deixando o colega para trás. Enquanto isso, o sargento circula pelo posto, enquanto a mulher dele grava tudo com o celular.
Os fatos revoltaram amigos, familiares e até membros da corporação que se manifestaram em um protesto no final da tarde de terça-feira. Indignados, os PMs de São Gabriel não querem trabalhar com os dois que, segundo os colegas, quebraram o juramento que fizeram ao ingressar na instituição.
– Estão todos aqui, familiares e pessoal da segurança, consternados com a covardia dos dois policiais – disse uma pessoa que não quis ter o nome divulgado por medo de represálias.
O delegado José Soares Bastos ouvirá os dois PMs hoje. O sargento, que está em férias, já foi ouvido, mas falou apenas das circunstâncias do fato. O outro presta serviços no Presídio Estadual de São Gabriel.
– Uma análise mais detida das imagens nos indica que pode ter ocorrido omissão. Eles podem responder por homicídio por omissão, em razão de que se furtaram ao dever de evitar o resultado, tendo em vista a condição de profissionais da segurança pública. Mas têm muitas circunstâncias que temos que avaliar para chegar a conclusão.
O Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) da Fronteira Oeste da BM instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a participação e a responsabilidade dos dois policiais no caso. O tenente coronel Roberto Ortiz Pereira, que responde pelo CRPO da Fronteira Oeste, disse que além de estarem à paisana, ou seja, fora de serviço, o sargento e soldado investigados estavam desarmados:
– O cidadão normal pode agir, o policial deve. Se não agir, pode ser responsabilizado criminalmente e perder o posto, por prevaricação. O que será analisado é qual era possibilidade de ação de cada um e o que cada um fez e deixou de fazer. Nossa legislação vai até a expulsão.
Ambos já prestaram depoimento à BM. Segundo o comandante, o sargento que não desceu do carro e cuja mulher fez as imagens relatou "que o que pode fazer foi filmar para auxiliar na identificação dos responsáveis." O comando não descarta a possibilidade de os dois serem transferidos para outra cidade.
A BM tem até 60 dias para concluir o IPM. Além disso, foi aberta uma sindicância especial para apurar a conduta do policial morto. Na prática, o resultado pode garantir ou não aposentadoria integral à mulher do PM, além de uma promoção póstuma para a vítima e uma condecoração por ato de bravura.
O tenente da reserva, Luiz Antônio Garcia Rodrigues, presidente em exercício da Associação dos Servidores de Nível Médio da BM de São Gabriel, acompanha as investigações:
– Não podemos pré julgar. A associação espera que haja justiça e que todos os fatos sejam esclarecidos pelos órgãos competentes, cada um na sua esfera.