O grande desafio da Seleção no jogo contra a Venezuela em Mérida, pela 10ª rodada das Eliminatórias, não era a rigor o resultado. Havia quase uma certeza da vitória brasileira, como realmente aconteceu com o 2 a 0, gols de Gabriel Jesus e de Willian. O desafio maior era saber se a Seleção estava livre da dependência do ausente Neymar e se a outra estrela nacional, o técnico Tite, se sairia bem tendo em mãos uma equipe sem o atacante do Barcelona.
Saiu-se bem o Tite, diga-se. O Brasil é líder das Eliminatórias depois de quatro jogos invictos. Deixou para trás a herança de Dunga, a sexta posição com nove pontos em 18 disputados, e chegou ao topo, aos 21 pontos.
A Seleção jogou para o gasto, sem o nível de excelência das vitórias contra Equador, Colômbia e Bolívia. Parecia que o adversário não ajudava no espetáculo. Mas Tite seguiu com sua ideia de 4-1-4-1, com Philippe Coutinho mais atuante à esquerda, cumprindo a função de Neymar, William à direita, Renato Augusto com boa movimentação pelo meio e Gabriel Jesus em lampejos na frente.
Falemos de lampejo. Neymar faria a mesma obra de arte que Gabriel Jesus executou aos 7 minutos de jogo. O goleiro Hernández se arvorou a sair com um passe tipo goleiro europeu ao centro do campo, mas não calculou a proximidade de Gabriel Jesus. O brasileiro interceptou a bola, avançou sobre Hernández à frente da meia lua e o encobriu com um toquinho.
O primeiro tempo ainda contou com outras chances de Gabriel e de Philippe Coutinho. Os dois apresentaram vistoso lance após uma interceptação de bola e tabela de Gabriel com Coutinho, que concluiu com perigo ao lado do gol. Enquanto a Venezuela movia mundos para chegar perto da zaga brasileira, a Seleção se contentava em roubar bolas e armar saídas rápidas.
Não mudou muito o aspecto do segundo tempo. De novo Gabriel Jesus finalizou bem aos 3 minutos e Paulinho perdeu um lance de gol ao chutar sozinho justo onde estava o goleiro Hernández. Aos 8 minutos, Renato Augusto, pela esquerda, cruzou rasante e Willian, na direita, marcou o 2 a 0, sem dificuldade.
A Venezuela, lanterninha das Eliminatórias, saco de pancadas, escassos dois empates em nove jogos, até demonstrou alguma ousadia. Incomodou mais com a entrada de Alejandro Guerra no lugar de Añor. Foi ele quem perdeu uma chance em vantagem sobre Filipe Luís. Em outro momento, Randón desviou de cabeça diante de Alisson, que pouco interveio. No final, exigiu uma defesa cinematográfica do brasileiro.
Quando o jogo estava em seu melhor momento, quando a Venezuela exigia mais do Brasil, houve queda de energia. O Estádio Metropolitano ficou às escuras por cerca de 22 minutos — o que não foi exatamente ruim para a Seleção. A chuva caiu todo o tempo do jogo e, com o campo pesado, a Seleção passou a demonstrar algum cansaço. Quando o jogo foi retomado, Giuliano entrou no lugar de Philippe Coutinho, e Taison no de Willian.
Neymar foi dispensável na noite de Mérida.
Por ironia, na última vez em que Neymar ficou fora por causa dos cartões amarelos o então técnico Dunga caiu. O atacante cometera falta dura no empate em 2 a 2 com o Uruguai na Arena Pernambuco, em 25 de março, e não jogou nos 2 a 2 da Seleção com o Paraguai no dia 29 de março no Estádio Defensores del Chaco, em Assunção. Era a sexta rodada, e o Brasil amargava o sexto lugar, fora da zona de classificação — o que provocou a queda do técnico.
A outra estrela da Seleção, o técnico Tite, se encarregou de montar um time eficiente.