Se existisse uma lista das empresas que mais recebem críticas pelo mundo afora, certamente a Monsanto estaria no topo. Com políticas bastante questionáveis, como a fabricação de agrotóxicos associados ao surgimento do câncer e até o suposto financiamento de pesquisas favoráveis aos transgênicos, a empresa parece ter dois chifrinhos sobre sua cabeça. Mas o que uma grande empresa farmacêutica teria a ganhar com a compra da Monsanto? É o que nós estamos nos perguntando após a Bayer pagar estimados US$ 66 bilhões para adquirir a companhia.
“Pioneiros em saúde e temos como paixão a inovação” – é assim que se define a empresa alemã que fabrica de Aspirina a diversos anticoncepcionais vendidos no Brasil, mas também tem em sua carta de produtos diversos herbicidas. Mas peraí: como uma empresa que se preocupa com a saúde compra uma que reconhecidamente deixa as pessoas doentes? Será que não está na hora de nos perguntarmos qual o interesse da Bayer com essa compra?
As duas empresas estão em tratativas desde maio, quando a Bayer lançou uma oferta pública de aquisição sobre a Monsanto. Na época, foram oferecidos apenas US$ 62 bilhões – e a fabricante de agrotóxicos não topou o negócio, fazendo com que a Bayer revisse os valores propostos.
A junção das duas empresas pode significar que mais de um quarto do mercado mundial de sementes e pesticidas fique nas mãos de apenas um grupo. Após a aquisição, considerada a maior transação em dinheiro da história, a Bayer teria acesso a cerca de duas mil novas variedades de sementes que hoje estão nas mãos da Monsanto.
Os números levantam o questionamento sobre se o negócio será ou não autorizado pelos órgãos antitruste. Afinal, estima-se que juntas as duas empresas controlariam 28% das vendas de herbicidas no mundo, além de se tornarem as maiores fabricantes de herbicidas e sementes. Se autorizado, o acordo deverá ser concluído até o fim de 2017.
E o que acontece quando mais de um quarto da produção de comida do mundo depende de uma só empresa? A resposta nós iremos ver em breve. Mas, entre as possibilidades, está uma maior facilidade para pressionar órgãos públicos a aprovar as políticas que forem do interesse da empresa e não das pessoas, bem como um domínio sobre o preço de mercado, que poderá ser facilmente manipulado. Nos dois casos, a influência de uma grande companhia detendo tantos direitos de produção é assustadora.