A Polícia Civil de Venâncio Aires indiciou por estelionato a dona da agência Sulmix Viagens e Turismo, suspeita de lesar dezenas de clientes nos vales do Sinos, do Rio Pardo e do Taquari.
O nome da empresária não foi revelado, mas a reportagem apurou se tratar de Andreia Colombo, que teria embolsado dinheiro da venda de pacotes turísticos no Brasil e no Exterior, sem concretizar o negócio com companhias aéreas e hotéis. Somente em Venâncio Aires, se apresentaram à polícia entre 15 e 20 clientes. O prejuízo deles chegaria a R$ 103 mil.
Registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica indica que a Sulmix foi aberta em janeiro de 2013, com capital social de R$ 10 mil, no centro de Venâncio Aires. Andreia, ex-funcionária de uma empresa do mesmo ramo, aparece como a única dona. Ali, ela teria conquistado clientela fiel e cumpridos corretamente todos compromissos, recebendo elogios em páginas de redes sociais da agência.
A situação mudaria no começo do ano, quando Andreia mudou a sede da empresa para Campo Bom, no Vale dos Sinos. A partir de então, seriam prejudicados, também, compradores que moram em Encantado, em São Leopoldo e em Novo Hamburgo como o casal de assistentes comerciais Kelvin Wilbert, 32 anos, e Michele Marques, 31 anos. Eles pagaram R$ 11 mil para curtir a lua de mel na Jamaica. Segundo Wilbert, grupos de mensagens via WhatsApp indicariam mais de uma centena de clientes lesada.
— Tinha uma turma de 37 pessoas que foi para o aeroporto e só quando chegou lá soube que não foram compradas passagens para Maceió — lembra.
A própria Andreia anunciou encerramento de atividades da Sulmix via rede social na tarde de 10 de maio, alegando dificuldades em razão da conjuntura do país, aumento da cotação do dólar e baixa procura por pacotes. Desde então, ela não foi mais encontrada na Sulmix (que está de portas fechadas), não respondeu mais a mensagens e desligou os telefones.
Sem citar o nome da empresária, o delegado Felipe Staub Cano, responsável pelo inquérito, revelou que, ao depor, a mulher admitiu "má gestão financeira dos negócios", e que pretenderia ressarcir clientes.
Além do indiciamento da empresária por estelionato, a polícia solicitou o bloqueio de bens pessoais (tem um carro no nome dela), da Sulmix, e de valores em contas bancárias. Além da ação penal que terá de responder, a empresária deverá ser acionada pela clientela na esfera civil para reparação de danos.
"Ela sabia do nosso sonho, era convidada do casamento"
Minha noiva (Michele Marques) conhece a Andreia há mais de dez anos. Viajou várias vezes para vários lugares por meio da agência, sempre tudo certinho. A Andreia sabia da nossa vontade de conhecer a Jamaica. Passaríamos a lua de mel em um resort Montego Bay. Ficou de nos avisar quando surgisse uma promoção.
Em janeiro, nos ofereceu um pacote com valor acessível, R$ 5,5 mil por pessoa — o normal para a época seria entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. Tínhamos dinheiro guardado para comprar um carro melhor. O nosso é um Celta de duas portas, mas decidimos pela viagem.
Investido tudo, pagando R$ 11 mil à vista. Recebemos a cópia de um contrato e temos comprovante de depósito na conta dela. Não pedimos número de voos ou de reserva em hotel. Confiamos. Entregaria duas ou três semanas antes da viagem, como aconteceu outras vezes. Nosso casamento está marcado para outubro.
Quando ela divulgou o fechamento da agência, pensei: acho que, ao menos, o nosso pacote está garantido. Mas, entrei em contato com o hotel e com a Copa Airlines e, para minha surpresa, não tinha nada. Fui na agência dela, e estava fechada. O telefone fixo não chama, e os dois celulares dela foram desativados. Ela não teve consideração com os amigos nem para dar explicação. Sabia do nosso sonho, era uma das convidadas para o casamento.
A gente está aguardando um ressarcimento, receber algum dinheiro. Uma amiga nossa se comoveu com o nosso sonho de lua de mel que foi perdido e criou uma vaquinha pela internet. Estamos surpresos com as doações. Já tem R$ 1.050,00. Caso não seja ressarcido pela Sulmix, talvez possamos ir para um outro lugar.
* Relato do assistente comercial Kelvin Wilbert, 32 anos, morador de Novo Hamburgo.
CONTRAPONTO
O que diz Rafaela Filter, advogada de Andreia Colombo:
"A comoção social levou ao indiciamento, mas ela deixou claro em depoimento que foi má gestão de fluxo de caixa. Ela não tinha capital de giro, enfrentando instabilidade econômica e baixas vendas. Em abril, ela vendeu pacote para 37 pessoas em hotel três estrelas em Maceió, mas teve de acomodar o grupo em hotel cinco estrelas, pagando do bolso R$ 18 mil, e só conseguiu comprar as passagens de volta deles. As de ida, ela vai reembolsar os clientes. A defesa acredita que o caso só vai repercutir na esfera civil. O judiciário deve descaracterizar o crime de estelionato porque não teve o dolo."