Três Passos, na Região Noroeste, tornou-se uma cidade marcada pela tragédia. Em abril de 2014, Bernardo Uglione Boldrini desapareceu de casa. O menino reclamava da falta de atenção em casa e, por isso, era acolhido na casa de vizinhos e coleguinhas de escola. Dez dias após o sumiço, foi encontrado enterrado em cova rasa, no interior de Frederico Westphalen. O pai Leandro Boldrini e a madrasta Graciele Ugulini, foram presos pelo crime, assim como Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Quase cinco anos depois, o município acompanhará nesta segunda-feira (11) o início do desfecho do caso. Os quatro serão submetidos a julgamento.
O júri ocorre no Fórum, na Avenida Júlio de Castilhos, na área central da cidade. No mesmo prédio, em janeiro de 2014, três meses antes de ser morto, Bernardo buscou ajuda da Justiça. Foi sozinho pedir para ser encaminhado para outra família. Reclamava da falta de afeto do pai e das brigas constantes com a madrasta. Boldrini, que era médico no município, acabou recebendo prazo de 90 dias, após uma audiência, para reavaliação do quadro familiar. Mas Bernardo foi morto antes de findar esse período.
A primeira etapa da sessão, com início às 9h30min, será a escolha dos jurados. O grupo é sorteado a partir de um grupo de 25 pessoas de Três Passos e de municípios próximos. O Ministério Público (MP) pode recusar três desses nomes, assim como cada uma das quatro defesas. Após a formação do conselho sentença, composto por sete jurados, a juíza Sucilene Engler Werle dará início aos depoimentos das 18 testemunhas.
As primeiras a serem ouvidas são aquelas que foram convocadas pela acusação. Entre elas estão a delegada Caroline Bamberg Machado, que coordenou a investigação que resultou na prisão dos réus. A empresária Juçara Petry, vizinha da família Boldrini, que costumava abrigar o menino em casa também será ouvida nesta etapa, assim como a ex-secretária do consultório do médico, Andressa Wagner. No total, o MP convocou cinco testemunhas.
Na sequência serão ouvidas as testemunhas de defesa. Apenas as defesas de Boldrini e Graciele indicaram pessoas para esta etapa do julgamento. Pelo médico serão nove testemunhas e pela madrasta quatro. A defesa de Evandro chegou a indicar oito pessoas, mas retirou os nomes na semana passada. Já Edelvânia não teve indicações feitas pelo advogado.
O tempo de fala das testemunhas impactará na duração do julgamento, que pode se estender por uma semana. A previsão do Tribunal de Justiça é que a oitiva dessas pessoas dure mais de um dia. Tanto a acusação como a defesa podem pedir ainda que sejam feitas leituras de peças do processo, o que também pode estender esse prazo.
Somente depois de todas testemunhas serem ouvidas é que os quatro réus poderão falar. Isso não deve ocorrer nesta segunda-feira. Eles também podem optar por permanecerem em silêncio. Em maio de 2015, em audiência no município, Graciele e Edelvânia optaram por não falar. Evandro e Boldrini negaram envolvimento no crime.
A última etapa do julgamento são os debates, que podem se prolongar por até nove horas, caso acusação e defesas utilizem o tempo máximo permitido. Inicialmente o MP tem duas horas e meia, seguida das defesas, que precisarão dividir o tempo. Caso a acusação opte pela réplica, terá mais duas horas, assim como as defesas.
- Teremos condições melhores de estimar prazo a partir do momento que iniciarem os trabalhos. Depende do tempo que levará para coleta da prova, das testemunhas arroladas em plenário, se serão mantidas, se haverá alguma desistência e o tempo do depoimento de cada um. O interrogatório dos réus, se vão optar pelo silêncio. A estimativa de trabalho é que dure a semana inteira - afirma o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Segurança Pública do MP, promotor Luciano Vaccaro.
O que dizem as defesas
Leandro Boldrini
Os advogados do pai do menino Bernardo, Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé Vares, preferiram não gravar entrevista. No entanto, enviaram nota para GaúchaZH: "A defesa de Leandro Boldrini confia no Tribunal do Júri e espera um julgamento justo, amparado nas provas do processo. O processo fala e o Júri terá, certamente, a sabedoria para ouvir e fazer a tão esperada justiça. Reiteramos o nosso respeito pela nobre atividade desempenhada pela imprensa".
Graciele Ugulini
O advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende a madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini, preferiu não se manifestar.
Edelvânia Wirganovicz
O advogado Gustavo Nagelstein, que defende a amiga da madrasta de Bernardo, declara que vai apresentar à sociedade uma outra versão, não "contaminada pelo preconceito". Para ele, as provas arrecadadas pelo Ministério Público e Polícia Civil são frágeis e não demonstram a participação de sua cliente no homicídio.
— Vamos apresentar uma linha de raciocínio que é bem razoável no sentido de que ela foi envolvida nessa trama toda. Ela estava, efetivamente, dentro do carro e isso não se nega. Mas a participação dela no homicídio não existe. Não houve participação premeditada — declara Nagelstein.
O advogado, diz ainda, que Edelvânia participou somente da ocultação de cadáver, e não do assassinato. Por fim, Nagelstein ainda afirma que, caso ela seja condenada apenas por ter auxiliado a esconder o corpo, a sua pena já teria sido cumprida com o tempo em que ficou presa.
Evandro Wirganovicz
O advogado Hélio Francisco Sauer, que defende Evandro, disse que não irá se manifestar antes do júri.