Uma idosa de 76 anos em situação de rua foi internada em um hospital de Montenegro, no Vale do Caí, na tarde do último dia 28 de junho a pedido do Ministério Público. Quando ela foi levada para tomar banho, os enfermeiros encontraram mais de R$ 15 mil escondidos embaixo das roupas de Lorena da Silva Rodrigues.
Dona Lorena, como é mais conhecida, vive nas ruas da cidade há cerca de 10 anos. Ela foi abordada na esquina das ruas Assis Brasil com Osvaldo Aranha, onde costuma ficar.
O filho dela, Cezar da Silva Rodrigues, de 53 anos, solicitou a internação após a prefeitura do município procurá-lo preocupada com as condições da idosa, exposta ao rigoroso frio do inverno gaúcho.
O valor encontrado com ela, de acordo com a prefeitura, é referente à aposentadoria que a idosa recebe. A quantia foi colocada sob depósito judicial e só poderá ser movimentada por um juiz. O dinheiro será utilizado para cobrir despesas pessoais de Dona Lorena. O secretário municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania de Montenegro, Ernani Ribeiro, relata que a ela gosta de estar na rua, onde se sente segura.
“Tivemos o maior cuidado com o valor para a segurança dela. Informamos o MP, que realizou o depósito judicial. Era notas de R$ 50 e R$ 100. Não era esmola. O dinheiro estava em um lenço amarrado na cintura dela”, conta Ribeiro.
Nas ruas, Lorena tinha a companhia de dois cachorros e um gato. Os cães foram entregues ao filho da idosa, que vive no município vizinho de Brochier, que fica a cerca de 40 quilômetros de Montenegro. Já o gato foi adotado por uma família da cidade.
O secretário Ribeiro diz que o pedido de internação compulsória partiu do filho e que ela sempre recusava os convites dos assistentes sociais para passar as noites em abrigos.
“Estávamos preocupados com o frio que fez recentemente. Eu temia que ela pudesse morrer de hipotermia naquelas madrugadas com temperatura negativa. Chamamos o filho dela aqui e ele realizou o pedido de internação”, diz o secretário.
Personagem de música
Dona Lorena, segundo ele, é um ícone da cidade. “Ela tem até música. As pessoas davam café, almoço e janta para ela, além de dinheiro. Ou seja, o gasto dela era zero. Não tinha nem contas para pagar”, reflete Ribeiro.
A idosa deve permanecer internada por dez dias no hospital, onde passa por uma bateria de exames de saúde. Agora, o secretário tem duas preocupações: que Lorena não retorne a viver nas ruas e que o dinheiro dela seja preservado. Há cerca de três anos, Lorena ganhou uma casa da prefeitura, que foi mobiliada com auxílio de moradores da cidade. Ela, no entanto, não permaneceu nem duas semanas no imóvel.
“Antes de ser internada, ela alugou um kitnet. Ficou só um mês e voltou para as ruas. Parece estranho, porque ela diz se sentir segura na rua e insegura em casa”, diz Ribeiro. Quando deixar o hospital, Lorena deve ser encaminhada para um asilo municipal. O secretário afirma que a prefeitura também vai procurar aproximar os laços familiares entre ela e o filho.
Fonte: G1