A penitenciária italiana de San Vittore, localizada no Centro de Milão, se tornou o centro das atenções para uma família moradora da zona rural de Canelinha, cidade catarinense com 11,6 mil habitantes no Vale do Rio Tijucas.
As polícias Federal e Civil e o advogado em Santa Catarina afirmam que essa é a prisão para a qual a catarinense Morgana dos Santos, 24 anos, foi levada por policiais daquele país no dia 5 de junho ao desembarcar no aeroporto local com cocaína na bagagem.
Desde então, familiares e amigos buscam por notícias sobre a situação dela no cárcere e também as razões que a levaram a supostamente ser mais um brasileiro a se aventurar no falso glamour proporcionado pela conexão entre Santa Catarina e a Europa para o tráfico de drogas internacional.
A viagem virou motivo de pesadelo para os parentes de Morgana, uma jovem que até então nunca tinha figurado em noticiários policiais. Adotada desde criança por uma família simples que tem um negócio próprio em Canelinha, estudou até o segundo ano do ensino médio, casou aos 17 anos e trabalhou em um supermercado. Separada, morava há quatro meses com uma amiga em Itapema, litoral Norte, onde trabalhava em um salão de beleza.
— Ela nunca foi presa, nunca cometeu nenhum crime. O que posso dizer é que a família está muito abalada e com muito medo de tudo isso — diz o advogado Telemaco Marrace de Oliveira sobre as negativas dos familiares de conversar com a reportagem.
Além do silêncio, os parentes convivem com a agonia de não saber o caminho trilhado por Morgana antes de ser presa. Depois de semanas sem receber notícias dela, um irmão procurou a delegacia de Canelinha e registrou um boletim de ocorrência indicando que estava desaparecida. A comunicação chegou à mesa da policial civil Márcia Hendges, da Delegacia de Desparecidos, em Florianópolis.
Em contato com um agente da Polícia Federal, Márcia foi informada no dia 23 de junho que Morgana estava na verdade presa na Itália desde o dia 5 de junho por tráfico de drogas, mas até então não havia mais detalhes como a quantidade da droga ou se mais pessoas haviam sido presas.
Vida de luxo seduz mulas
Especializados em investigações envolvendo mulas catarinenses que vão para o exterior seduzidas pelo dinheiro rápido, policiais federais e civis ouvidos pela reportagem afirmam que os indícios são que pode ter embarcado com cocaína para retornar da Europa com malas recheadas de ecstasy ou outras drogas sintéticas e entregar a traficantes em SC. Em troca, ganharia quantia em dinheiro suficiente para desfrutar de uma vida de luxo.
Até sexta-feira, seguia o cenário de poucas informações sobre o caso, seja na polícia ou no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Indagado a respeito pela reportagem, o Itamaraty informou que acompanha o caso por meio do Consulado do Brasil em Milão e que tem mantido contato com os familiares da brasileira. Ainda conforme a nota enviada por meio da assessoria, o Itamaraty afirmou que em respeito à privacidade de cidadãos brasileiros e de seus familiares não está autorizado a divulgar informações sobre o caso.
Contratado pela família para a defesa e também para obter informações sobre Morgana no exterior, o advogado Telemaco Marrace de Oliveira viajará a Itália este mês e espera ter acesso a ela na prisão de San Vittore.
Oliveira, que em SC também atua na defesa de outros jovens da região de Tijucas presos por tráfico internacional de drogas, acredita que Morgana foi aliciada por traficantes num esquema muito maior que a atuação da catarinense como mula (responsável apenas pelo transporte do entorpecente).
Cavalos do tráfico
Em abril de 2015, o Diário Catarinense publicou reportagem especial intitulada Cavalos do Tráfico em que revelou detalhes da conexão entre Santa Catarina e a Europa para o tráfico de drogas. A investigação revelou como barões da droga aliciam catarinenses a uma perigosa viagem criminosa internacional que pode custar a própria vida. A reportagem apurou que há mais de dez anos a Grande Florianópolis e o litoral Norte catarinense são regiões em que há intenso recrutamento de pessoas para levar cocaína à Europa e retornar ao Brasil carregando drogas sintéticas.
Fonte: Zero Hora