Preço salgado, nervosismo, diversos exames e provas. Conseguir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é uma espécie de maratona a ser percorrida pelos futuros motoristas antes de saírem às ruas sobre rodas. As dificuldades para tirar o documento podem ser vistas em números: segundo o Detran-RS, apenas 42% das pessoas conseguem ser aprovadas ao fazer teste de direção pela primeira vez na categoria B (para carros). Os dados mostram que a maioria (58%) desiste ou precisa fazer mais de uma vez o exame prático para conseguir a carteira no Estado.
Como o candidato que roda no exame tem o período de um ano para fazer novas provas até conseguir tirar a carteira, o levantamento leva em conta os pedidos de abertura do Registro Nacional de Condutores Habilitados (Renach) feitos entre janeiro e dezembro de 2017 e as provas realizadas entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018. Nesse tempo, 160.924 pessoas se candidataram nos Centro de Formação de Condutores (CFC) do Estado para tirar a primeira habilitação para carro. Desses, 118.872 foram aprovados, mas apenas 67.373 conseguiram passar no teste de direção na tentativa inicial.
Uma série de fatores estruturais e psicológicos, acompanhados de erros ao volante, são os responsáveis pelo grande número de reprovações no teste de direção.
Os principais erros ao volante
“Apagar” o motor do carro e esquecer de ligar o pisca-alerta representam 40% do total de erros cometidos pelos candidatos à motorista durante o teste de direção. As duas infrações são as mais comuns e, se cometidas juntas no exame prático, somam cinco pontos e já são suficientes para rodar um candidato.
Os erros que descontam apenas um ponto dos participantes do teste de direção representam 11%. Estacionar o veículo a mais de 50 cm do meio-fio da calçada, interpretar de forma equivocada o painel do carro ou usar de forma incorreta a embreagem são alguns exemplos.
Também são infrações recorrentes usar a marcha de maneira incorreta (7%), perder o controle da direção (6%) e tocar nos postes da baliza (6%). De acordo com o Detran, os outros 30% restantes são de erros menos comuns, mas que também levam os candidatos a refazerem o teste.
O mito do exame
O chefe da Divisão de Exames Teóricos e Práticos do Detran-RS, Michael dos Santos, considera três fatores como cruciais para o desempenho durante a avaliação.
O primeiro deles é a legislação, já que o número de faltas para reprovar um candidato é baixo – são permitidos, no máximo, três pontos. O nervosismo e a questão financeira também interferem no processo para conseguir a licença para dirigir.
– Se cria um mito em torno do exame e do examinador, dizendo que o pessoal é muito rígido, que só vem para reprovar. Então o candidato, quando chega para fazer o exame, está uma pilha de nervos. Outra questão é socioeconômica: muitas vezes as pessoas fazem as 20 horas-aula que a legislação exige e o instrutor diz ao aluno que ele ainda não está pronto para a prova, mas o aluno não tem dinheiro para fazer mais aulas. Aí ele vai lá, faz a prova e reprova – explica Michael.
Por isso, o mais comum é que as pessoas façam mais vezes o teste e demorem mais tempo para conseguir a CNH. Mais de 22 mil pessoas, por exemplo, foram aprovadas no segundo exame prático, no levantamento feito entre janeiro de 2017 a dezembro de 2018. Em um caso extremo, um candidato teve de fazer 16 vezes a prova prática para conseguir a carteira.
Ao fazer o teste pela segunda vez, o candidato deve pagar uma taxa de R$ 33,54, mais o aluguel do carro, que é de R$ 54,29. Da terceira tentativa em diante, a taxa básica do exame dobra para R$ 67,09. O candidato tem um ano, a contar da data da abertura do processo, para fazer os testes de novo. Se passar o período, ele precisa pagar os custos cheios: os da categoria B ficam em R$ 2.270,76.
Os CFCs também orientam os alunos a fazerem aulas extras de direção antes do teste prático, porém, esses custos a mais também pesam: para a categoria B, cada hora-aula custa R$ 61,04.
Para outras categorias, é diferente
Os números do Detran mostram que em categorias específicas o índice de aprovação é bem superior, apesar de serem realizados menos testes de direção ao longo do ano.
Em 2018, foram aplicados mais de 71 mil exames práticos para a categoria A (veículos de duas ou três rodas), com 71,11% de aprovação. Nas categorias C, D e E (motoristas profissionais e transporte de passageiros), a aprovação foi de 75%.
As porcentagens de aprovação e reprovação quase não mudam e vêm se mantendo estáveis no Estado. Nos últimos cinco anos, as aprovações ficaram apenas na casa dos 30% para a categoria B. Dos mais de 382 mil exames práticos realizados no Rio Grande do Sul no ano passado, o índice de aprovação foi de 31,39%.