Pelo menos 19 pessoas foram indiciadas pelo assalto a duas agências bancárias na cidade de Miraguaí, no Noroeste do Rio Grande do Sul, em fevereiro deste ano. Dois suspeitos estão foragidos: uma professora que atuava dentro da reserva da Guarita e o marido dela, um indígena.
A polícia não sabe ao certo como se deu a aproximação entre os indígenas e os criminosos, que usaram a reserva como esconderijo e local de preparação para o crime.
Ao longo da investigação, iniciada logo após o assalto, 25 pessoas foram presas.
A localização de um veículo que havia sido usado na fuga – e que estava no nome da mãe de um dos moradores da reserva indígena – foi a pista que levou a polícia a descobrir que os criminosos haviam usado as terras indígenas como acampamento. Em seguida, a polícia obteve provas de que alguns dos indígenas não apenas tinham conhecimento, como haviam participado da preparação para o assalto.
Um deles, Misael da Silva da Cruz, já era apontado desde abril como um dos mentores do crime.Entretanto, o envolvimento dos indígenas no assalto veio à tona no dia 7 de novembro, quando o cacique da aldeia da Guarita e vereador mais votado de Tenente Portela, Valdonês Joaquim, foi preso. O pai dele se entregou dias depois.Conforme a polícia, eles deram suporte para os criminosos na preparação para o assalto.
A defesa de ambos nega que eles tenham relação com o crime. O Ministério Público apresentou denúncia contra os dois na semana passada.

Vereador Valdonês Joaquim foi preso em Tenente Portela quando chegava à Câmara (Foto: Portela Online)
A polícia suspeita que a aproximação dos indígenas com a quadrilha possa ter ocorrido na cadeia, uma vez que dois indígenas já tinham sido presos. Um deles é Misael da Silva da Cruz, que já havia sido preso por tráfico de drogas, e que agora está foragido. "A reserva é muito ampla, várias pessoas convivem com os indígenas, e como se deu esse conhecimento, não sabemos.
O que se sabe, é que o Misael já foi investigado por tráfico de drogas e, apesar de ser indígena, tinha ligações com outras pessoas (criminosos), e por isso acreditamos que isso possa ter trazido essa aproximação, mas não se sabe como isso aconteceu, é apenas uma especulação", diz o delegado Marion Volino, que participou das investigações.
A mulher de Misael, Camila Lorenzon Gonzatto, é professora municipal de Redentora e dava aulas para crianças dentro da reserva. Na casa do pai dela foram encontrados objetos relacionados com os veículos roubados usados no assalto, além de ter participado, conforme o MP, na manufatura de miguelitos para furar pneus das viaturas da polícia e ter atuado como responsável por dar suporte à quadrilha alertando sobre a movimentação da polícia no dia do assalto.
Ela e o marido são os dois únicos foragidos.O promotor de Justiça Guilherme Lopes, de Tenente Portela, ressalta que a maioria dos indígenas sequer sabia da ligação com a quadrilha. "Ele não tinham conhecimento, até porque a reserva é grande. O local onde fica o cacique é uma das várias comunidades e eles não têm esse contato próximo.
Os que têm, ficam com medo de falar", relata. Entre os denunciados está um homem acusado de envolvimento com uma facção criminosa que atua no centro do país e tem um braço no Rio Grande do Sul. Contudo, segundo a polícia, não há indícios da relação direta com o grupo criminoso no planejamento e realização do assalto de Miraguaí.
O que a polícia sabe é que a maioria dos envolvidos cumpriu pena na cadeia de Carazinho, onde teriam se conhecido, e que são investigados por associação em tentativas de homicídio.
Além disso, alguns dos integrantes seriam especializados em assaltos a ônibus na região de Sarandi com foco em excursões que levam sacoleiros para o Paraguai.
MIRAGUAÍ REDENTORA TENENTE PORTELA
