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Empresa investigada por adulteração aceita 'creme podre', diz gravação
15/03/2017 11:07 em Novidades
Uma empresa investigada na 12ª fase da Operação Leite Compensado, que apura adulteração no leite, deflagrada nesta terça-feira (14) no Rio Grande do Sul, aceita receber "cremes podres", conforme a gravação de uma conversa entre funcionários divulgada pelo Ministério Público e veiculada no RBS Notícias (confira acima). A investigação aponta que indústrias usavam compostos para tentar mascarar que alguns produtos eram impróprios para consumo, como cremes de leite.

Interlocutor 1: "Mandar pra onde aqueles cremes podres lá?"

Interlocutor 2: "Pra Rancho Belo."

Interlocutor 1: "E aceitam lá daquele jeito?"

Interlocutor 2:"Lá recebem de qualquer jeito."

Interlocutor 1: "Até creme pegando fogo?"

Interlocutor 2: "É!"

Quatro pessoas foram presas durante o cumprimento de cinco mandados de prisão e quatro de busca e apreensão em Nova Araçá, na Serra, Casca e Marau, no Norte do estado, e em Estrela e Travesseiro, no Vale do Taquari. Elas ficarão no Presídio Estadual de Arroio do Meio, na mesma região. Uma pessoa está foragida.

Outro trecho divulgado pelo MP aponta um funcionário dava instruções a um colega sobre como adulterar o produto:

Interlocutor 1: "Eu te liguei porque 'temo' um 'pepino' no creme aqui. Tá 5,82 o PH e a acidez 11"

Interlocutor 2: "Faz assim, ó: vai botando soda e mexe, deixa o PH em 6,30 e alguma coisinha e aí carrega."

"São três laticínios investigados, abrimos a investigação em outubro [de 2016]. Estavam recuperando o creme de leite já envelhecido, estragado, botando neutralizantes, enfim, recuperando produtos já impróprios para consumo", destaca o promotor Mauro Rockenbach.

A previsão é que mais de 40 pessoas deem depoimento até o final da semana que vem, quando o MP deve apresentar a denúncia à Justiça da Comarca de Arroio do Meio.

Sobre as empresas

Na indústria Laticínios Modena (nome fantasia Bonilé), de Nova Araçá, o problema estava na produção de creme de leite. O produto, impróprio para consumo, recebia adição de água e voltava a ser comercializado. Dois funcionários da empresa foram presos.

Em Travesseiro, as ações foram feitas na empresa de laticínios Rancho Belo, onde foram apreendidos documentos e amostras dos produtos. Segundo o MP, leite in natura e creme de leite industrializado, já impróprios para consumo, eram levados para o local. Lá, eram adicionados produtos para controlar a acidez e eliminar os micro-organismos. O material era embalado e revendido para supermercados.

O dono da empresa em Travesseiro foi preso, assim como um transportador, já na cidade de Estrela. Além disso, a indústria teve as atividades suspensas pela Fepam em virtude de irregularidades na licença de operação e inadequação de descarte de resíduos, entre outros.

Os produtos da empresa iam para a rede de supermercados Dia%. O chefe do serviço de inspeção do Mapa, Leonardo Isolan, informou que será feita a rastreabilidade para indicar se há ou não problemas com o leite da marca e, assim que forem obtidos os resultados, as ações cabíveis serão adotadas.

"Creme de leite e creme de soro são matérias primas para a elaboração dos produtos finais, o que significa que as ações estão cada vez mais preventivas. Já que o índice de conformidade no produto final é de 99%", apontou.

O funcionário da empresa de Casca, a Princesul, não se apresentou ao Ministério Público e é considerado foragido.

Nesta empresa, foram localizadas 5 toneladas de queijo que haviam sido devolvidos por um laticínio de Maceió, Alagoas. "Os queijos estavam vencidos, impróprios, totalmente sem padrão, e a devolução de produto era algo comum, já que a própria rede Dia% devolveu muitas cargas em virtude de problemas com embalagem ou azedos, mesmo dentro da validade", disse.

O mandado de busca e apreensão cumprido na M&M Assessoria, contratada pela Laticínios Modena, ocorre porque, de acordo com relatório do Mapa, em grande parte dos postos de resfriamento e laticínios onde a empresa atuou, foram constatadas adulterações no leite cru in natura e em derivados.

A Laticínios Modena disse ao G1 que reuniria informações antes de fazer um pronunciamento sobre o caso. À reportagem da RBS TV, a empresa ainda salientou que não tem conhecimento do que se trata a operação, e nem o motivo de ser investigada.

A Indústria de Laticínios Rancho Belo não quis se manifestar. Ninguém foi encontrado na Laticínios C&P para comentar sobre o assunto. O portal ainda não conseguiu contato telefônico com representantes da M&M Assessoria.


Como funcionava a fraude


Na prática, os três laticínios recebem e repassam entre si leite cru, creme de leite e soro de creme fora dos padrões previstos pela legislação brasileira, segundo o MP. Muitas das cargas chegam a ser refugadas por outras empresas e acabam sendo comercializadas para estas indústrias.

Alguns elementos da investigação apontam que carregamentos de leite que só poderiam ter como destino a alimentação de animais, foram usados para a industrialização de produtos de consumo humano.

Em mais de dez Certificados Técnicos de Análise emitidos pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) realizados em leite cru, leite UHT e nata, foram detectados índices fora dos padrões.

Conforme as investigações, os sócios-proprietários das empresas ordenavam a adição desses produtos para corrigir a acidez e eliminar micro-organismos, com objetivo de "rejuvenescer" o produto já vencido, impróprio para o consumo.


No caso da água, ela era adicionada para que o creme de leite duro, já amanteigado, fosse novamente amolecido e misturado a outras cargas em condições melhores. Os laudos realizados pelas próprias empresas eram mascarados, para que tanto a fiscalização quanto os compradores não visualizassem os problemas, diz o MP.
Fonte: G1
 

 
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